O exclusivo de PlayStation 4 é tenso, violento, emocionante e questionador, ele não tem medo de desafiar seus jogadores nos mais variados quesitos, porém dificilmente vai agradar todo mundo, até mesmo quem gostou do primeiro game corre o risco de não gostar desse.
O jogo sabe aproveitar com maestria os protagonistas e o mundo apresentados no original, introduzindo novos personagens uma antagonista. Ao mesmo tempo, expande seus temas complexos sobre natureza humana e a dualidade do herói.
O jogo é linear e mistura sempre gameplays com CGs (computação gráfica), o que acaba tirando a importância de suas decisões ou até o seu controle sobre a ação.
Essas restrições não são necessariamente um problema. Afinal, funcionaram muito bem no primeiro, que tinha potencial para agradar até aqueles que preferem maior liberdade.
Mas a história de “Part 2” se perde diversas vezes, com idas e vindas no tempo e entre personagens diferentes, com propósitos distintos, e momentos em que os objetivos e decisões dos personagens não se justificam.
Veja o trailer:
Enredo
O novo The last of Us começa cinco anos após o fim do primeiro jogo. Nele, os protagonistas Joel e Ellie vivem uma vida pacífica (até onde isso é possível) em uma comunidade chamada “Jackson”, que se une para sobreviver.
A inspiração dessa cidade é claramente Alexandria de The Walking Dead, inclusive o enredo segue a mesma linha da série, onde os zumbis são cada vez mais plano de fundo para as relações inter e intra pessoais ganharem força.
Dessa vez, os jogadores assumem o controle da jovem, agora com 19 anos. Após mais um episódio violento que acaba com a paz da região, ela parte em sua própria jornada.
É importante dizer que a Naughty Dogs fez uma “passagem de bastão” onde Ellie será a nova protagonista e praticamente descartando por completo Joel, decisão que não agradará a todos os fãs da franquia. Nesse game podemos explorar uma Ellie cada vez mais fechada e sisuda focada em vingança e conflitos internos.
Gameplay
O grande foco do game ainda é a gameplay, um modelo de ação, aventura e horror em terceira pessoa que marcou o primeiro game foi mantido. A escassez de recursos esperada em um mundo pós-apocalíptico nos faz gastar bastante tempo da gameplay explorando os mapas atrás de recursos. Os confrontos com zumbis e facções inimigas são extremamente satisfatórios.
Frustrantes no começo, os combates aos poucos evoluem e recompensam estratégia e paciência. Nesse sentido, o sistema permanece em grande parte inalterado. Afinal, para que mexer em algo que deu tão certo?
Gráficos
O jogo foi lançado, espertamente, à véspera de uma troca de geração de consoles, o que fará com que o visual aproveite ao máximo dessa geração atual e que ao lançar a nova geração, pequenos ajustes sejam feitos e a empresa consiga mais rios de dinheiro com sua versão Remaster, vendendo o mesmo jogo duas vezes para você.
A técnica de captura de movimentos usada na construção dos personagens também reflete a melhora, e suas expressões estão ainda mais humanas.
A dualidade na história
The last of Us não é exatamente uma franquia onde o mocinho luta contra o bandido, na parte II isso é mais evidenciado, por diversas vezes somos obrigados a jogar com personagens que não a protagonista e vivenciamos seus pontos de vista, inclusive quando jogamos com a antagonista do game, somos levados a ver a história pelos olhos dela.
Infelizmente, por mais que jogar com Ellie seja um ponto alto, é difícil encontrar a motivação nesses momentos longe da protagonista e desejamos voltar à protagonista o mais rápido possível.
Além disso, uma história tão amarrada cobra seu preço, pago através de limitações nas escolhas do jogador.
Ele pode traçar a melhor estratégia para o combate, é verdade, mas fica totalmente refém da narrativa, que por diversas vezes deixa de lado a coerência para forçar momentos desnecessários.
É possível relevar a falta de liberdade diante de um texto impecável. Isso fica mais difícil quando, depois de matar dez inimigos fortemente armados sem dar um único um único tiro, Ellie se esquece de que está em ambiente hostil e é pega de surpresa em uma sequência de animação.
Além disso, há diversos momentos em que a trama se arrasta, presa em convenções e clichês típicos de games, que envolvem ir e voltar de lugares para encontrar pessoas que nunca estão exatamente lá, como se existissem apenas para aumentar a já longa duração da campanha.
Abordagem de assuntos delicados
Em entrevista, o diretor do jogo, Neil Druckmann, afirmou que era muito importante não forçar a barra, não “pregar” as mensagens.
O game aborda questões delicadas como sexualidade, política e religião, esses fatos não são importantes para a trama principal, porém são bem colocados nas entrelinhas da história, esses assuntos são importantes para aprofundar cada personagem.
A naturalidade com que trata a sexualidade da protagonista é feita com maestria, como já havia sido revelado na expansão “Left Behind” de 2014, a sexualidade de Ellie não era segredo para ninguém.
Resumo
The Last of Us parte II é um game que repete a fórmula de seu antecessor e promete batalhas épicas e tensas, tanto com zumbis quanto com humanos.
A história deixa a desejar e se prende em clichês, ela é amarrada e da pouca liberdade para o jogador, em uma época de jogos cada vez mais livres e de ações de “efeito borboleta”, The Last of Us parece ir na contramão dessa tendência.
O gráfico é impecável e a fotografia parece uma obra de arte, visivelmente foi gasto muito mais tempo na parte gráfica do que no enredo do jogo.
Rumos da história podem desagradar até mesmos os fãs mais fervorosos da franquia e sua colocação em temas delicados vai gerar bastante debate nas redes sociais, infelimente pelos motivos errados.