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Crítica | O Poço

ALERTA SPOILER – Isso é uma crítica, logo, contém Spoilers.

Um filme tem chamado a atenção dos assinantes da Netflix, O Poço, o filme espanhol já figurou entre os Top 10 dos mais assistidos no Brasil, assumindo até a primeira colocação em alguns momentos.

Existem três tipos de pessoas. As de cima, as de baixo e as que caem

Com essa frase, o diretor Galder Gaztelu-Urrutia abre o filme que promete crítica social do começo ao fim. Através do  terror gore, o filme conta a história de Goreng, um homem que acorda em uma prisão diferente, sem muita explicação do background do personagem os primeiros minutos do filme focam em entender o funcionamento dessa prisão diferente. Como essa prisão é diferente?

Primeiramente a cela é um espaço quadrangular grande que conta apenas com dois presos, a cela tem 4 paredes e nenhuma grade, pois a prisão é VERTICAL, onde cada andar desse prédio corresponde a uma câmara, uma cela, existe um buraco grande quadrado no meio da cela onde da para ver os andares superiores e inferiores, essa vista mostra uma infinidades de andares e o que sabemos no início da trama é que o protagonista está no andar 48 com mais um velho.

Uma outra característica dessa prisão é que quando o preso é encarcerado ele pode escolher UM item, qualquer item, e leva-lo consigo. Podemos ver gente que leva armas, livros, cordas, uma piscina (que?) e até um cachorro. Uma outra coisa nesta prisão é que no primeiro dia de cada detento, a administração pede para o detento escolher um prato que mais gosta e esse prato será servido a ele durante sua estadia.

O filme se desenrola com o velho, Trimagasi, explicando para Goreng como funciona a prisão, que eles não tem sol ou ar fresco e a única esperança diária deles é a espera da comida, essa comida é servida andar por andar por meio de uma plataforma móvel que se desloca entre todos os andares por meio do buraco grande no meio de cada cela, em um deslocamento vertical, começando sempre no andar 1 e indo até o último.

O grande problema desse sistema é que a comida que é posta no andar 1 não é renovada para os andares seguintes e os presos de cada andar podem comer o quanto quiserem durante o tempo que a plataforma fique no seu andar, caso o preso roube comida da plataforma e guarde consigo para mais tarde, o andar é punido ficando muito frio a ponto de congelar ou muito quente a ponto de assar, até que o preso devolva a comida.

Sabendo disso temos o problema maior da prisão e maior questionamento do filme, os andares de cima comem um delicioso banquete, os do meio as sobras e os de baixo não tem alimento. O que “equilibra” e atenua a situação é que os presos ficam 30 dias em cada andar, ao final de 30 dias um gás põe todos para dormir e eles são redivididos entre os andares, acordando assim em um novo andar. Pelo andar do filme percebemos que os presos alternam entre andares baixos e andares altos a cada 30 dias de modo que os que sobrevivem conseguem testar todos os níveis de andares e todos os tipos de comida que chega em cada andar.

Com o passar dos dias na cadeia Goreng se mostra revoltado com o método de alimentação, tentando mudar o modo como os presos se alimentavam, pedindo-os para racionar a comida, porém nunca é ouvido e acaba cedendo ao sistema, até ser levado ao extremo de sobrevivência quando no rodízio seguinte, ele acaba caindo no andar 147, onde não chega comida.

Tudo muda quando ele acorda no andar 6 em mais um dos rodízios, la ele divide cela com Baharat, um homem que pela primeira vez é posto em um andar tão no começo e tenta desesperadamente escalar os andares om sua corda, em vão. Então Goreng convence Baharat que algo devia mudar na prisão e que eles deveriam ter um “ato de solidariedade espontânea”, comendo só o necessário para que a comida chegue nos níveis mais baixos. Eles decidem levar essa mensagem a todos os presos de todos os andares, sacrificando seu bom posicionamento no sexto andar.

A trama se desenvolve nessa angústia da busca por alimento, na incerteza de para onde vai no final dos 30 dias e no instinto de sobrevivência humana. O filme tem cenas fortes que deixaria Jigsaw (Jogos Mortais) orgulhoso, além dessas cenas as cenas de alimentação também exigem um estômago forte.  Por mais que o filme leve uma mensagem clara ao telespectador, onde a culpa dos menos afortunados é dos mais afortunados, ele foca muito na mensagem social e acaba deixando um pouco a desejar na questão de roteiro, deixando várias lacunas, intencionais ou não, e cenas completamente mau explicadas e até mesmo equivocadas. A seguir discutiremos sobre elas:

FORTES SPOILERS ABAIXO

O final do filme além de ambíguo deixa muitas lacunas, eu digo que o final é repleto de “NÃO”,

NÃO sabemos se ao final a garotinha conseguiu chegar viva lá em cima,

NÃO sabemos ao certo se o protagonista morreu ou se está delirando,

NÃO sabemos como a garotinha sobreviveu escondida na prisão no andar 333 aparentemente sem mostrar nenhum sinal de desidratação ou degeneração,

NÃO sabemos ao certo o POR QUÊ a garotinha que é a mensagem, isso seria uma mensagem de que eles falharam na admissão do presídio e não no sistema de comida.

Eu to só a Anitta.

Outra falha que para mim é crucial é que o protagonista ESCOLHE estar preso, ele é voluntário, escolheu estar lá para largar o vício do fumo, puta ideia bacana, não morro por fumo mas morro por canibalismo. A administradora do presidio também se voluntaria a estar na prisão por algum motivo que não é explicado e ela escolhe levar um cachorro com ela. Por quê alguém seria voluntário de ser um PRESO?

A frase que norteia o filme “Existem três tipos de pessoas. As de cima, as de baixo e as que caem”, também é errada uma vez que existe um QUARTO tipo de pessoa, os que sobem, uma vez que o rodízio é rotatório.

Agora o pior erro para mim é que o filme da a entender o tempo todo que existe comida para todos se todos racionarem, o problema dos mais abaixo não terem comida é que os de cima comem tudo, isso é MENTIRA, no final do filme vemos o protagonista e seu amigo viajando todos os andares, pulando os 50 primeiros) e dando comida porcionada, racionada para todos os andares, e mesmo assim os últimos andares não recebem comida, enquanto o primeiro andar a receber comida recebe um prato com alguma comida o último recebe uma fatia de presunto por exemplo. Então não teria como alimentar a todos com aquela comida e a premissa que os mais abaixo não têm comida porque os de cima comem tudo é FALHO!

O Poço é um bom filme, porém nada além disso, farão dele um grande filme baseado na sua discussão social. Se você ignorar as lacunas citadas acima, ele te trará um tempo de diversão e tensão.

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