Candidato Asafe de 'Placa-mãe' segurando um folhetim informativo
Cinema Entrevistas

Inspirações por trás da animação “Placa-mãe”

Placa-mãe’, longa-metragem do diretor Igor Bastos, chega aos cinemas no dia 3 de outubro e antes mesmo de sua estreia se destaca, pois por mais que não faltem opções de animações brasileiras na TV, não há muita representatividade nos cinemas. Além disso, o longa reverterá parte dos valores arrecadados com ingressos para a Aldeia Infantil SOS.

O longa retrata a vontade de Nadi, uma androide, de adotar os irmãos David e Lina. A discussão sobre a possibilidade de um ‘robô’ adotar uma criança vai para votação no senado, que sem muitas intercorrências permite que ela passe a criar as crianças em sua residência. Lá, algumas questões em relação aos irmãos surgem, como o medo de David de se entregar à sua suposta mãe. Em contrapartida, Asafe (Marcio Simões), um político extremista, não apoia a decisão porque ‘apoia’ a família tradicional e faz de tudo para evitar que a situação, usando bem como trapaças e mentiras para enganar o público.

No decorrer de Placa-mãe fica nítida a dependência de Asafe com os robôs e ao que eles proporcionam, como por exemplo: limpeza da casa, entrega de encomendas, escovar os dentes, etc. A única funcionária humana é encarregada apenas de verificar sobre a satisfação do público sobre seu conteúdo. Com isso, surge a dúvida sobre a intenção do diretor com essas informações.

“O Asafe era para ser um personagem que ele não fazia nada. Era para ter uma esteira rolante para ele andar, era para tudo literalmente circular em volta dele, era para ele ser tipo egocêntrico nesse nível. Acabou que isso na hora que foi para o storyboard, não funcionou muito bem, igual tinha no roteiro. Ele era para ser vilão passivo, mas ao mesmo tempo que tem esse poder invisível, que é um pouco como esses políticos atuam, eles não fazem absolutamente nada, mas eles conseguem tudo com esse poder, que o House of Cars também retrata isso muito, quando ele fala: Se você prefere dinheiro a poder, você é idiota. Os robôs eram para ser uma metáfora mais daquela parte da sociedade que é invisibilizada, e aí entra tudo.”, começou. “Isso que eu queria, que os robôs tivessem aparência humana, mas que de alguma forma pudessem distinguir eles. E aí eu cheguei à conclusão que a forma mais comum de distinção é pela cor da pele.”

A trilha sonora do longa é repleta de composições da MPB, muito alegre e receptiva. Essas canções se fizeram presentes principalmente na infância da geração Y e Z, o que proporciona uma sensação de aconchego e tranquilidade pelo saudosismo, que não foi rompido até mesmo com os momentos de tensão.

“Eu gosto muito de intertextualidade, sabe? Eu gosto quando o Kubrick vai falar que o personagem é nazista e aí ele coloca Wagner. Ou quando o Hitchcock quer mostrar quem é o assassino e aí ele mostra pela música de um compositor que assassinou 50 pessoas. Eu gosto muito dessa intertextualidade, que são essas dicas que a gente vai dando para quem conhece.” “Eu tentei trazer algumas músicas que têm um pouco disso no imaginário de Minas Gerais, como Milton, Fernando Brant, Bola de Meio e Bola de Gude. E eu acho que uma intertextualidade que é bem presente é que o Asafe é o único que tem uma música em inglês, o único que não vai gostar de música brasileira. Além de mostrar que aquela música, apesar dela ser bem conhecida no repertório brasileiro, ela dialogou com o filme.”, concluiu.

A atuação das crianças foi o ponto alto do roteiro longa. Os intérpretes de David(Victor) e Lina(Ana Julia) tinham, respectivamente, 7 e 11 anos, e proporcionaram uma experiência incrível ao espectador.

“Não é porque fui gênio e escrevi, não. Era uma criança mesmo fazendo do jeito dela. O filme tem muito de improviso, muito. Eu sou um diretor estreante e acho que a gente tem que ter a humildade de entender que o ator é uma peça fundamental, e ele tem uma bagagem dele, sabe? O meu papel enquanto diretor é escolher aquele ator bem e dar espaço para ele trabalhar.”, começou. “Os atores tiveram muito espaço para trabalhar, e eu sinto muito falta disso no cinema de animação, no de live action também. Eu acho que as vozes é uma coisa que eu tenho muito orgulho nesse filme.”, finalizou.

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Cosplayer, crítica de cinema e jornalista.

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